FALATÓRIOS
ClownagensResumo
Situação: Publicado pela NovaMente Editora, RJ, 2012.
Em Clownagens, livro que transcreve seu Falatório de 2009, MD Magno retoma sua teoria dos ‘Cinco Impérios da Cultura’, introduzida em 1994, e afirma que estamos entrando no Quarto Império: o Império da hegemonia do Espiritual, da ordem do soft, da pura e neutra Informação, que prescinde de noções como ‘sujeito’, ‘objeto’ ou ‘símbolo’ tão caras ao século XX.
No Quarto Império, que se impõe com certa vocação bipolar entre mania e depressão, sofremos de um dilaceramento que pode dar a impressão de maior tolerância, dado que a maioria começa a perceber que seus fundamentos ruíram, mas não é este o caso, pois simplesmente perderam-se as estribeiras. Como lidar com isso?
Para encaminhar a questão, o autor lembra que o clone verdadeiro concerne à reprodução assexuada no registro do Primário, que é o registro do artifício espontâneo: um brota do outro, que brota do outro... e todos, salvo acidente, são idênticos. No Primário sexuado, que é o nosso – composto de um autossoma e de um etossoma a ele aderido –, a repetição não é propriamente uma clonagem, pois são gametas diferentes em jogo. Mas, além disso, temos a clonagem como artifício industrial, que é uma intervenção do registro Secundário e parece bem mais fácil: copiar um mesmo livro, disco, máquina, carro... É a reprodução quase idêntica de nossas palhaçadas culturais. São as clownagens.
Achamos uma graça quando ela ocorre no nível do consumo de gadgets e objetos de conforto, mas a clonagem cultural, que é secundária também, passada de boca a boca e com mais facilidade do que a clonagem primária, torna-se uma desgraça por ser uma tentativa de repetição ipsis litteris da produção anterior: é uma força a mais para a repetição em massa de comportamentos co-naturalizados (neo-etológicos, como são chamados). Ou seja, o que é secundário começa a se hipostasiar como se fosse estritamente etológico, primário: é a neo-etologia.
A história da psicanálise é, para o autor, o achamento arqueológico das camadas, ou estratos, sintomático-culturais dos Impérios. Assim, no intuito de pensar o psiquismo no regime do Quarto Império, ele vai desenvolver temas como: a intervenção analítica como (não interpretar, mas) contar com a possibilidade de Revirão no nível secundário para que o reviramento aí possa, sem fixações simbólicas, gerir a ordenação primária; a consideração da angústia como a mesma face do desejo (desejo/angústia é o afeto por excelência); a definição da psicanálise como ciência conjetural, que não diz como deve ser, mas que pode acompanhar os acontecimentos psíquicos espreitando sua tendência e sugerindo previsões; o entendimento da estrutura mental como determinada inconscientemente, ou seja, como caótica e complexa, em determinismo sem previsibilidade...
Sumário
1. 28 março, 13
Bipolaridade do Quarto-Império em vocação maníaco-depressiva – Clonagem do Secundário, transmissão cultural e neo-etologia – Força do neo-etológico resulta em resistência à análise – Questões sobre transformação do neoetológico em etossomático por repetição – O mercado é o pathos do capital – Passagem para o Quarto Império define início da hegemonia da pura informação – Considerações sobre a importância clínica do creodo antrópico – História da psicanálise a partir dos estratos sintomático-culturais dos impérios – Cada análise repete necessariamente a escavação arqueológica dos impérios.
2. 02 maio, 27
Crítica à ideia de universal – ALEI Haver desejo de não-Haver é um genérico, e não um universal – Verdade: enunciado sustentador de uma composição supostamente explicitada – Qualquer conhecimento é da ordem do provisório – Relações entre crença, religião e paranoia – Consideração das fórmulas quânticas da sexuação à luz da crítica ao universal – Vetorização progressiva e regressiva na produção teórica em psicanálise.
3. 14 maio, 41
Abordagem das afetações a partir do binômio angústia/desejo – Angústia/desejo são dois alelos da pulsão – Consideração sobre o sonho da injeção de Irma, de Freud – “Todo sonho é um anteparo à angústia” – Indiciação do binômio angústia/desejo em Melanie Klein e sua elaboração em Jacques Lacan – Haver sob pulsão é desejante e angustiante.
4. 30 maio, 52
Forças de investimento decidem do desejo ou da angústia – Desejo e angústia e seus vetores opostos (positivo e negativo) – Afetações têm bases primárias – Psicanálise (Ocidente) e Zen (Oriente) como exemplos de suspeição e suspensão do Secundário – Consideração dos conceitos freudianos de sublimação e formação reativa – Modo psicanalítico de transar as afetações: secundário em movimento, informação e operação de informação.
5. 20 junho, 64
Comentários sobre o livro Le Siècle de Freud: Une Histoire Sociale et Culturelle de la Psychanalyse, de Eli Zaretsky – Indivíduo (Freud), sujeito dividido (Lacan) e pessoa (MD Magno) como mudanças históricas acompanhadas pela psicanálise – Pessoa é resultante vetorial de formações em regime de polarização, com foco e franja – Operação psicanalítica é transformação e recomposição das formações de uma pessoa.
6. 04 julho, 75
Breves considerações do revirão desejo-angústia aplicado aos Cinco Impérios – Consequências do conceito de pessoa para a formação analista e o processo de análise – A formação analista é uma função – A formação analista é polo e foco do processo analítico – Cais Absoluto como lugar desde onde a formação analista com-sidera com indiferença uma pessoa – Referência ao Cais Absoluto permite análise das clonagens e ana-fetação – Experiência clínica: meta-morfose permanente do analista e do analisando – Esclarecimento sobre o “caminho do meio” da psicanálise – A análise é auto-recursiva – A psicanálise é uma ciência conjetural.
7. 08 agosto, 85
Presença do revirão nas articulações de Freud – Halo significante: instância conceitual no inconsciente e expressão conceitual na consciência – Implicações do halo significante para a questão do conhecimento – Quebra de simetria impõe disjunção e recalque – Comentários sobre a noção de perspectivismo em Eduardo Viveiros de Castro – Ciência como herdeira imediata da magia – Revirão na figura de São Sebastião: salvador e desejado – Conhecimento é transa recíproca e quiasmática entre formações – Transa de formações produz conhecimento-isso.
8. 15 agosto, 102
Aspectos teórico-clínicos da psicanálise a partir do creodo antrópico – Édipo (Freud) é formação de base do segundo império – Nome do Pai (Lacan) é tradução de terceiro império – Outras considerações sobre o perspectivismo antropológico – Exemplos de desconfiguração sintomática em sonoridade, visualidade, literalidade, narrativa e identidade – Discussão sobre a noção de temperamento – Questão da falta no mundo contemporâneo.
9. 29 agosto, 118
“O Inconsciente é caótico” – Revirão: regra simples para a complexidade – Conceito de Hegemonia das formações – Formações primárias e as penúltimas psicanálises – Poderes de contenção e o retorno do recalcado – Funcionalidade e patogênese das formações primárias – Transferência como transposição de estados mentais para outrem – Bases primárias da competência transferencial nesta espécie – Psicose e excesso de transferência – Afecções psíquicas são exageros de funções normais – Dois extremos da transferência: transferência
radical e falta de transferência – Formações secundárias funcionam como imprinting postiço – Juízo foraclusivo: suspender e indiferenciar a contenção.
10. 12 setembro, 133
Haver, ser e existência no Revirão – Funcionamento bipolar no Revirão – Halo significante e bifididade – Língua bipolar e inconsciente bífido – Relação entre determinação e livre-arbítrio – Proposição de duas formações básicas de conhecimento: paranoia e metanoia.
11. 26 setembro, 148
Expedientes de formação na instituição – Esquema escalar para metanoia e paranoia – Psicanálise transita entre metanoia e paranoia – Formações dominantes e formações recessivas – Epigenética e a critica ao estruturalismo genético – Estado de crítica permanente com os achados do século XXI – Reconsideração do pensamento de Lamarck – A Arte não existe.
12. 10 outubro, 162
Comentário sobre o livro L’Inscription corporelle de l’esprit: sciences cognitives et expérience humaine, de Francisco Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosch – Idéia de vazio no pensamento oriental – Transa, presença e impermanência no conhecimento – Experiência psíquica de entendimento de quem é EU – Vazio é ponto bífido – Pensamento reativo em análise – Diferocracia é governança sem fundamento – Formação do analista deveria produzir hegemonia de postura analítica.
13. 24 outubro, 177
Elemento místico em Wittgenstein e o estatuto místico da psicanálise – Para Badcock a psicose é hiper expressão feminina e o autismo, hiper expressão masculina – Entendimento da possibilidade e eficácia da intervenção secundária nas formações primárias – Tendências patemáticas podem ser epigeneticamente induzidas – Funcionalidade da psicanálise é promover transa de formações e indiferenciar formações – Funcionalidade do conceito de Hiperdeterminação.
14. 07 novembro, 191
Achados pertinentes das ciências cognitivas e epigenética – Crítica ao automatismo genético – Questões sobre as possibilidades efetivas de intervenção secundária no Primário – Duas formações de conhecimento: metanoia e paranoia – Algumas teses sobre o conhecimento: atribuição de conhecimento às transas entre formações primárias; “eu é conhecimento resultante”; conhecimento é registro – O campo da psicanálise não é disciplinar – Vantagem da tópica Primário/Secundário/Originário – Os extremos da metanoia e da paranoia – Jullien e as relações entre psicanálise e pensamento chinês.
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