SEMINÁRIOS
Ad Sorores IIIIResumo
Os Quatro Discursos
Local: Sala no Shopping da Gávea (Rio de Janeiro)
Situação: A primeira seção - À Tradição Freudiana, ou a Atra Dicção Freudiana -, publicada no fascículo LUGRejus, n° 6, CFRJ, jun. 1980. Textos das demais seções em preparação.
Resumo
Em suas treze seções são abordados os Quatro Discursos, apresentados por Lacan aos estudantes franceses pouco antes de maio de 1968 (e sistematizados em seu Seminário de 1969/70, O Avesso da Psicanálise). O título do Seminário se justifica pela importância do número 4 na obra de Lacan e por ter sido retirado de uma tabuleta de casa de prostituição da Roma antiga, na qual certamente se anunciavam os serviços de Quatro Irmãs. Aponta-se aí que é de corpos oferecidos que os discursos se in-corporam e que é desta incorporação discursiva (sintomatização) que tudo se pró-institui, dependendo deste ou daquele corpo.
Na primeira seção, apresenta-se o objetivo do Seminário: buscar a Arquitetura (razão dos construtos) de produção dos discursos. De saída, enfatiza-se a tradição, cujos elementos Lacan recolheu. Sobretudo, o "número de ouro", que, através da história - buscado pela escola pitagórica, passando por Euclides, pelos platônicos e sendo chamado de "proporção divina" no Renascimento -, mostra uma repetição serial das relações entre termos sucessivos. É a mesma tradição que também vigora na busca da Opera Magna, da obra alquímica de tentar encontrar o número de regência do Universo. Para além de seus avatares místico-mítico-religiosos, o que importa para a psicanálise é o movimento que há aí de ruptura da vocação iniciática e esotérica mediante o ultrapassamento da ordem imaginária no sentido de um atingimento do plano do simbólico onde se busca inscrever essa razão áurea.
Nas segunda e terceira seções, continua-se preparando a concepção dos elementos que compõem a ordem do discursos. Para entender o número de ouro como escrita do resto constante na razão entre os termos sucessivos, propõe-se um pequeno teatro lógico, em três momentos, de consideração possível de um objeto por um sujeito: o regime do real, ao qual se adscreve o nome de Parmênides; o do imaginário, para o qual se poderia invocar a filosofia; e o do simbólico, ao qual se adscreveria o nome de Heráclito.
Então, fazendo a passagem para o nó borromeano, o ponto de partida será o real dessa estrutura, cuja determinação converge para uma impossibilidade de não sobrar o resto, o objeto a, que gravita no não-centro nodular de real, simbólico e imaginário, e que é ao mesmo tempo pertinente e não-pertinente a esses três registros. É na sua afetação significante que o objeto a passa à ordem paradoxal de afetação do simbólico. E é aí que o falante apresenta sua especificidade de afetação da incompletude do significante, isto é, do reviramento do significante como corte puro.
Continua a apresentação dos elementos constitutivos dos Quatro Discursos: o mais-gozar, situado em relação ao saber e para além da mais-valia de Marx; o traço unário, retirado por Lacan de Freud; a dialética senhor/escravo e as interseções de bolsa/vida e ser/sentido; a alteridade radical, o grande Outro, A, ao qual sempre falta um significante. Isto para situar a relação fundamental de S1 (significante-mestre) a S2 (saber), na qual o Sujeito, $, surge representado como escansão de um significante para outro e neste interstício sempre caindo uma sobra que se representa na proporcionalidade constante (número de ouro) e na constância do objeto perdido, a. Assim, estão colocados os elementos mínimos da Lógica do Significante que vão compor a formulação dos Quatro Discursos: S1, S2, a e $. Estabelecem-se quatro letras, quatro lugares e duas barras. As letras girarão pelos lugares posicionados pelas barras e daí serão tiradas as possibilidades discursivas.
Nas duas seções seguintes, a quarta e a quinta, são apresentados os Quatro Discursos em sua rotatividade topológica pelos quatro lugares (agente/verdade outro/produto). Primeiramente, referindo-se a Hegel, o Discurso do Senhor, do Mestre - S1/$ S2/a - onde temos colocada a relação fundamental S1 S2, a qual, enquanto representação da pura escansão faz emergir o Sujeito cindido, $, que, neste discurso, coloca-se no lugar da verdade e faz produzir um resto que sobra constantemente, o mais-gozar, o objeto a. Tem-se aí o posicionamento de uma diferença específica (S1) no lugar do agente fazendo com que haja trabalho do saber (S2) no lugar do outro para produzir a mais-valia enquanto mais-gozar (a), a qual, por ser absolutamente inapropriável, aponta para sua impossível relação com o Sujeito, $, que está situado no lugar da verdade que suporta o agente. Por rotação dos termos nos quatro lugares, seguem-se o Discurso da Histérica ($/a S1/S2), o Discurso da Universidade (S2/S1 a/$) e o Discurso do Analista (a/S2 $/S1), que são não apenas apresentados, mas estudados quanto a suas conseqüências clínicas.
A sexta e a sétima seções se voltam para o entendimento da lógica do significante. Considera-se a topologia do espelho retomando o que fora tratado no Seminário de 1976/7, sobre Marcel Duchamp; aprofunda-se a apresentação dos elementos constituintes do Estádio do Espelho e da estrutura do significante (esta em sua diferença para com as concepções de Lévi-Strauss e Saussure); e enfatiza-se a dissimetria existente no regime do Imaginário. A sétima seção aborda as questões da sexualidade feminina e das formulações quânticas da sexuação.
Nas seis últimas seções, continua-se a consideração dos Discursos. O Discurso do Analista é o que propicia um modo de produção que faz surgir a verdade na sua particularidade de cada sujeito. Um dos efeitos práticos apresentados é o de que, quando alguém se dá conta de que o significante que promove seus efeitos discursivos é o S1, mesmo que caia no Discurso do Senhor, por exemplo, não precisará escamotear a cisão do Sujeito que aí suporta a verdade do agente. Isto coloca sua ação numa posição radicalmente diferente da do Senhor enquanto tal. O Discurso da Histérica e o Discurso Universitário também são vistos tanto em seus posicionamentos na giratória dos discursos quanto em suas especificidades. Entre outros pontos, abordam-se ainda: a interpretação analítica e suas implicações; algumas questões paradoxais da lógica trazida por Wittgenstein; os impasses da psicologia, da lingüística, do discurso marxista e da antropologia; as relações prazer/gozo, lei/desejo, enunciado/enunciação; e a foraclusão.
Potiguara Mendes Silveira Junior
Sumário
Ad Sorores IIII: Os Quatro Discursos de Lacan
1 – 27 Abr: Tradição freudiana (ou A Atra Dicção Freudiana)
Entendimento d’Os quatro discursos como arquitetura – Exame da noção de tradição a partir do exemplo pitagórico – Princípio do Logos Sagrado no pensamento pitagórico – Vigor da razão áurea na história.
2 – 11 Mai: Mais-gozar: não mais-gozar
Entendimento da lógica do objeto a a partir do número de ouro – Objeto a: nodalização de R, S e I – Discussão sobre o paradoxo de Russell – Mais-valia e mais-gozar – Constituição do sujeito a partir do traço unário – Significante como Alteridade radical – S1 e S2: relação fundamental – Leclaire: inconsciente é condição da linguagem x Lacan: linguagem é condição do inconsciente – Não há interpretação em psicanálise.
3 – 01 Jun: Lugares, letras, barras, traços
Análise de um poema de Fernando Pessoa – Esclarecimentos sobre o conceito de Outro em psicanálise – Traço unário como condição de identificação – Estatuto do saber e processo psicanalítico – Relação entre sexualidade e falta – Estrutura alienante do sujeito – Quatro elementos fundamentais da ordem discursiva: S1, S2, $ e a – Questões sobre verdade em psicanálise.
4 – 15 Jun: Estruturas e posições
Discurso e suas formações de base – Articulação entre os elementos fundamentais do discurso – Nodulamento borromeano e função do sintoma – Sintoma como posicionamento discursivo –Modo de produção discursiva: agente, verdade, outro, produção – Rotação das posições: discursos do mestre, da histérica, do analista e do universitário.
5 – 29 Jun: A quadrilha
Sintoma como Nome-do-Pai (metáfora paterna) – Exame dos discursos do senhor, da histérica, do analista e do universitário – Discussão sobre passe em psicanálise – Senso Contra Censo: equivalência entre passe e ato poético – Estatuto da matemização em psicanálise – Psicanálise não é hermenêutica.
6 – 10 Ago: Topologia do espelho
Investigação sobre o espelho – Espelho é banda de Moebius – Entendimento da análise a partir do modelo óptico de Lacan – Estrutura do espelho e lógica do significante – Questões sobre instituição, transferência e interpretação.
7 – 24 Ago: Sexuação e anatomia
Discussão com Serge Leclaire a propósito do feminino – Retomada da lógica da sexuação de Lacan a partir das fórmulas quânticas – Questionamento da relação entre anatomia e sexuação em Leclaire – Proposição de esquema sobre gozo masculino, gozo feminino e gozo dos anjos.
8 – 14 Set: Giratório dos discursos
Especificidade do discurso do analista – Esclarecimento sobre ato e interpretação – Conseqüência da lógica da sexuação: “os homens não existem, a não ser como discurso” – Questões sobre a função do analista.
9 – 28 Set: Gozo, prazer e transferência
Discussão sobre gozo e sua relação com prazer – Exame da interdição do incesto a partir do registro simbólico – Função paterna e produção de limite – Ordem pictórica é hiper-verbal – Gozo e prazer no regime da transferência – Vigência psicótica do falante.
10 – 12 Out: Prazer, gozo etc.
Discussão sobre Para uma teoria del complejo de Edipo: Seminarios de Vincennes, de Serge Leclaire – Desejo e princípio do prazer a partir da lógica do significante – Constituição da função materna – Binômio Lei/Desejo – Questões sobre pulsão, gozo e verdade.
11 – 26 Out: Escrevidão
Intervenção de Betty Milan sobre Sebastião do Rio de Janeiro,de MD Magno – Relação entre obra de arte e psicanálise – Com-sideração da obra de arte: atingimento do $entido – Sublimação e fetiche na obra de arte – Crítica ao libertarismo de Deleuze e Guattari.
12 – 16 Nov: Hiância
Função da hiância nos construtos teóricos da psicanálise – Função lógica e topológica do não-todo – Tópica freudiana como tentativas de construção topológica – Jogos transferenciais não são interpretação – Formação de analista.
13 – 30 Nov: Fália
Falha ôntica do falante: Falia – Requisição do impossível e faz-de-conta a partir do conto Nada e a nossa condição, de Guimarães Rosa – Partição da sexuação difere da ordem imaginária.
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