SEMINÁRIOS
Senso Contra CensoResumo
Local: EAV - Escola de Artes Visuais do Parque Lage (1976) e Depto. de Psicanálise da Universidade de Paris VIII (1977/8).
Situação: Texto do Seminário aprovado como dissertação de Mestrado na ECO - Escola de Comunicação da UFRJ, 1976. Publicado em LUGAR n ° 9, com o título Senso Contra Censo: Da Obra de Arte etc. (Introdução a uma Semasionomia). RJ: Tempo Brasileiro / CFRJ, 1977. O Seminário foi reapresentado - juntamente com o Seminário de 1977/8, Rosa Rosae - no Depto. de Psicanálise (então dirigido por Jacques Lacan) da Universidade de Paris VIII, Vincennes, onde o autor foi Professor Assistente.
Resumo
Neste que inaugura a série de seus Seminários - terminada em 1998 -, propõe-se um questionamento efetivo sobre a Obra de Arte, com uma nova teoria da arte, a Semasionomia, como outra maneira de retomar a consideração do fenômeno poético. Trata-se da com-sideração da obra de arte que, neste momento, tem a teoria lacaniana como suporte capaz de deslocar o sentido em seu ponto mais extremo, em seu ponto de quebra de orientação, ponto não-orientável, puro não-senso ou sentido puro do empuxo pulsional. Essa com-sideração do sentido - grafado como $entido - já é bastante indicativa do que será posteriormente, na teoria do Pleroma, o conceito de Revirão.
O Seminário apresenta cinco partes. Em Um Campo, seu Jogo, a partir da teoria lacaniana do Sujeito, questiona-se o campo dos sentidos dados e organizados segundo uma lógica binária pensando-o segundo a lógica da contrabanda (cinta de Moebius) como puro corte unário, cujos restos, que resultam da repetição do corte sobre si mesmo, tornam-se binários. Esse corte é o Sujeito, que se representa de um significante para outro significante. A obra de arte é, então, pensada a partir do ato-poético que estabelece para a arte um caminho para além e para fora de toda estética, de todas as teorias anteriores sobre a produção artística: "A Obra: um saber, enquanto jogo, que se desorienta na contrabanda - no que desenha sua borda".
Em A Partida do Campo, na descrição da banda de Moebius como corte e seus restos binários, considera-se a questão do sentido em sua extremação, o sentido do sentido. Sentido tanto na acepção de significação quanto de orientação. O que é o sentido? Qual a sua orientação? O sentido é situado então como ponto não-orientável, puro não-senso ou sentido puro homólogo à cinta de Moebius em sua equivocidade radical e que insiste mas não consiste na cadeia significante: "Ser ou ter o Falo é o sentido, a se grafar daqui por diante de $entido, que se repete na produção dos efeitos de sentido".
Em O Trabalho da Arte, articula-se o trabalho da arte como sendo o senso contra censo, o trabalho de subversão da ordem do cálculo e da censura. O trabalho do censo como sendo o cálculo da ficção (fixão) e o do senso como respeito à secção (sexão) como um movimento de permanente ruptura do que se coalesce como resto, como sobra na composição da Obra. O trabalho da arte é mostração do sintoma e não de um sintoma. Então, no que lhe é essencial, a obra de arte não remete ao campo da representação (Vorstellung) nem tem lugar de representação (Vorstellungsrepraesentantz), mas sim de objeto a. A obra de arte assim pensada não tem nenhum compromisso com a cultura, com a sociedade. Ela é tão somente de-sistência, nenhuma protelação do despertar, perda dos sentidos, sobrando apenas a obra como resto sem orientação: s’obra.
Em Um Suposto Sujeito, a obra de arte é considerada como escrita que imita o saber inconsistente enquanto real (Lacan). Ela é saber-suposto idêntico ao lugar do analista que na transferência é sujeito-suposto-saber. Assim, a obra de arte, ocupando o lugar da causa, do objeto a, acolhe e recolhe a transferência do público que, ao tentar falar dela, fala de si mesmo. Nesse sentido, a obra de arte é muito rara, assim como é rara uma cura ou um analista. Não se trata portanto de interpretar uma obra de arte, mas de tomar o seu exemplo como topada com o sentido do empuxo da pulsão de morte. Daí que seu compromisso não é com o sentido dos sonhos, dos mitos ou dos sintomas, mas com o sentido do não-senso último do desejo.
Propõe-se, então, neste Seminário, algo muito diferente da crítica da arte, da semiótica, da hermenêutica ou da história da arte: a Semasionomia como contemplação do que se dá por obra de arte, com-sideração do ato poético como ato limite, indicativo de um litoral desértico, à beira de lugar nenhum, do nada. É a consideração da obra de arte como mimese ou cunhagem da borda desse vazio inabordável como Denúncia bem dita de uma impossibilidade real.
Aristides Alonso
Sumário
Senso Contra Censo da Obra de Arte etc. (Introdução a uma Semasionomia)
Dez-Jan 75/6: Da Obra-de-Arte
1 – Um campo, seu jogo
Um jogo, sua bola – A mesma bola, outro jogo – O jogo e a obra.
2 – A partida do campo
Entre os cortes e o resto – O sentido do sentido – O real, a morte e seu sexo.
3 – O trabalho da arte
Sobre o grão e o cálculo – De-sistência do sonho – De perder os sentidos.
4 – Um suposto sujeito
Sujeito suposto saber – Saber suposto sujeito – Saber suposto sujeito-suposto-saber.
5 – Semasionomia
Arte do silêncio, silêncio da obra – Arte da consideração: com-sideração da obra – Uma proposta de contemplação.
6 – Anexos
Os quatro discursos (quadrípodes) – Fórmulas quânticas da sexuação.
Jan-Jul 72/5: Etc.
1 – Jul 72: O hífen na barra
S/s: a barra – Spaltung: Esquizousia – Pulsão (pulsação) e mancagem – Vor-Stellung: dois efeitos – A máquina-desejo – A Gerúndio.
2 – Jan 72: Alffabetto e esquizousia. Tal espaço e espaço tau
A fala e o falo a Rei Lear – Tal espaço e espaço tau: a superfície como instância do distante; a superfície como estância do instante.
3 – Jan 73: O shifter e o dichter: indicação e denúncia
Pirilimpsiquice – A metáfora de Jakobson ou Benveniste no espelho – No chá muito-louco de Alice – Ex-ausente pessoa – Denúncia: um “sujeito” que falta – O Dichter – Conclusão.
4 – Jul 73: Gerúndio: primeira ementa para uma antropologia do sujeito
Psicanálise como ciência conjeturada-conjeturante – Vida: íntegron biológico; sistema S; íntegron limite (postulado) – Morte: efeito F; operador O; sistema Y – Existência: íntegron ôme (w): Socius (Sc); máquina de inscrição: o risco originário; Castração: Princípio de Realidade – Dis-Curso: primeira castração (K1): o cataclismo; segunda castração (K2): estrutura edipiana; terceira castração (K3): recuperação do incesto.
5 – Jan 75: O triunfo do olhar: Cézanne com Freud
O olhar – Quiasma: Lacan e Merleau-Ponty – Entre a visão e o olhar – Depor o olhar – Fotos e auto-retratos de Cézanne –– Posição do verdadeiro olhar: olhar de paralelas – Erotismo “absoluto” – Perversão de Cézanne – Cézanne está com Freud – Homem dos Lobos – Anamorfose de Cézanne – Função do écran – Por uma visão topo-lógica.
6 – Jul 75: A aura de arte na era de sua produtividade técnica
Ato Poético – “O que falta em Natura, é produzido em Cultura” – Duas posições diante do artista: Platão e Aristóteles – Ato poético: repetição da travessia, de Natura a Cultura – Enunciação e seu modo de produção – Dois momentos do objeto artístico: obração e obrada – Considerações sobre a aura e a reprodutibilidade técnica de Benjamin –– A aura da obra-de-arte – Wiederholung x Reproduzieren – Ato poético exige produção de uma obração – A aura se prende ao (a)bjeto: (a)ura – Produtividade técnica da (a)ura – Ato poético e gozo.
Voltar