SÓPAPOS
SóPapos 2011Resumo
Situação: Publicado pela NovaMente Editora, RJ, 2016.
Desde os anos 1970, MD Magno vem interruptamente realizando Seminários, depois Falatórios, e agora SóPapos: “conversas aleatórias com companheiros agoraqui mais ou menos interessados, deixando correr os papos no aleatório, mas sem jogar conversa fora”. A série dos SóPapos tem início com este livro, que transcreve as conversas ocorridas em 2011.
São muitas as questões e temas considerados, sempre no interesse de desenvolver a reformatação da psicanálise que o autor realizara nos anos 1980 com o nome de Nova Psicanálise ou NovaMente:
Quanto à teoria do conhecimento, pergunta ele: “Qual ciência não é conjetural?” Sua resposta: “é tudo conjetura, ficção, aposta, tentativa de organizar o pensamento, de saber onde é e onde não é o limite...” Este é um raciocínio de base da Teoria das Formações, que ele vem trabalhando desde 1990. Tudo que há é tomado como Formações do Haver, a serem abordadas segundo a transa em que estão imersas.
Pensar assim tem consequências importantes para a Clínica psicanalítica. Nela, não se trata de privilegiar esta ou aquela manifestação, pois o Inconsciente se manifesta a cada passo sempre, sem hierarquia, momento ou maneira: ele está falando em qualquer situação. As formações sintomáticas se expõem, seus conteúdos não interessam. A psicanálise não é confessionário, ela faz análise de formações, e não de conteúdos.
Outro tema é o da Modernidade, que, para Magno, é a capacidade de dissolver as formações, de deixar solto: ser moderno é ser disponível em qualquer época da história. O “Pós-moderno” é apenas o moderno tomando consciência de sua modernidade, ou seja, de suas precariedade e relatividade. Isto resulta num veemente processo crítico da própria modernidade – e se coaduna com a função da psicanálise: dissolver a cultura.
A Teoria das Formações também propõe uma Teoria Geral do Poder (não como poder já estabelecido, e sim) como verbo: qualquer formação tem poder, ela pode certas coisas – e só pode por ser constituída de várias formações que lhe dão esse poder. A psicanálise, em seu aspecto de clínica cotidiana, precisa prestar atenção aos poderes que lá estão em jogo. Ana-lisar é partir tudo em pedacinhos e entender a menor formação possível de ser entendida, aquela que, em última instância, está constituindo os poderes.
Quanto às práticas eróticas, diz Magno que não são perversões, e sim diversões. Perversão é: aquele que tem “o instinto assassino de querer dizer o que o outro deve ser”. A psicanálise nada tem a dizer sobre como se deve ser. Se tem a dizer, não é mais psicanálise, é filosofia. A psicanálise tem a dizer o que ela está vendo que é, sem fazer a menor ideia do que deve ser.
A dissolução das formações – que o pensamento de Freud introduziu como ana-lysis – é o que vemos impulsionado com força inusitada pela expansão planetária da tecnologia. A tecnologia esfacela, pulveriza as formações, mas não busca formações de compreensão. Eis uma tarefa da psicanálise: além de dissolver as formações, procurar montar um aparelho compreensivo do que acontece hoje.
Sumário
1, 17
Psicanálise é Arte e Ciência.
2, 17
O “Caminho da matança e da guerra” como uma via de aproximação do Cais Absoluto – Guerra é embate das diferenças – Diferocracia é explicitação do respeito pela diferença em função da luta.
3, 21
Funcionalidade do Revirão é a base da teoria do conhecimento NovaMente – Lugar terceiro da psicanálise em relação a racionalismos críticos (Karl Popper) e anárquicos (Paul Feyerabend).
4, 23
Grupos de Formação como modelo permanente de reconhecimento analítico – Expedientes clínicos de instalação da Formação Analista – “Psicanálise faz análise de formação, e não de conteúdo”.
5, 26
Hipnose como dispositivo de entendimento do processo de alienação.
6, 27
As idades do Primário e do Secundário – “Povo é a infância da humanidade”.
7, 33
Modernidade é capacidade de dissolução e disponibilidade – Bipolaridade do Modernismo.
8, 35
Modernidade, modernismo e pós-moderno em sua relação com a psicanálise.
9, 38
Inserção pós-moderna do livro Aboque/Abaque – Nova Psicanálise: estilística pós-moderna e teoria de Quarto Império – Os Impérios são fractais, e não cíclicos.
10, 43
Diferocracia como postura e consideração psicanalíticas da organização do mundo político.
11, 45
“Política é transa entre formações no sentido da determinação do poder” – Condição genérica do poder: o que quer que permita fazer qualquer coisa – Desde o lugar do Real, cada pessoa é única e qualquer pessoa é a mesma.
12, 48
Relações entre a psicanálise e o pensamento Zen.
13, 51
Diferocracia se apoia no valor da Identidade das pessoas no nível do Real – Real como estância produtora de diferença.
14, 54
Questões sobre Diferocracia e Orbanismo.
15, 57
Relações entre cosmologia contemporânea e o axioma psicanalítico “Haver desejo de não-Haver” – Estatuto místico da psicanálise decorre do axioma.
16, 59
Como prática exercida, psicanálise é um processo de cura – Ética em psicanálise resulta de seu estatuto místico.
17, 61
Diferocracia como política resultante da ética psicanalítica – “Diferocracia é reconhecimento da Identidade das Pessoas no Vínculo Absoluto e consequente afirmação das diferenças geradas por essa Identidade”.
18, 65
Diferocracia é posição política do analista – Uma diferença é verdadeira, lícita e legítima em sua havência, essência e existência – Questões sobre sociedade e estado em face da Diferocracia.
19, 72
Considerações sobre contenção e prevenção – Função da psicanálise é instalar formações capazes de com-siderar outras.
20, 75
Posição socialista e liberal como exemplares do processo de conflito político contemporâneo.
21, 78
Metanoia e paranoia como ferramentas de leitura das configurações políticas – Entendimento analítico da ideia de partido – Juízo foraclusivo como base da política – Instituição psicanalítica como lugar de exercício dessa política – Lucro e capitalismo segundo a psicanálise.
22, 86
Esclarecimentos sobre as noções de Ego, sujeito, ego-ista e ego-cêntrico e sua relação com o conceito de narcisismo.
23, 91
Em sua fundação, a psicanálise não tem vontade paradigmática de constituição ideológica ou filosófica – Produção teórica em psicanálise: postura desconfigurada e rigor instrumental.
24, 94
Comentários sobre práticas e procedimentos clínicos que contribuíram para o campo psicanalítico – Ordem transferencial de sustentação teórica ou institucional.
25, 100
Mitologia, religião e filosofia como “teorias da segurança” – “Cura não é encontrar um sentido para a vida, mas libertar-se dele”.
26, 103
Considerações sobre o ressentimento.
27, 107
Aproximações entre a tese da bifididade do Inconsciente e a funcionalidade do cérebro em q-bits – Mundo macro é função de quebra de simetria – Sobrevivência do Primário força recalcamento e estupidez.
28, 110
Ausência de raciocínios de totalização na Nova Psicanálise.
29, 112
Psicanálise não envolve interpretação – Tendência permanente de psicologização – Exercícios de indiferenciação e o lugar do analista como disponibilidade permanente.
30, 115
Século XX: do interesse pela mitologia à crítica radical da mitologização – Crítica de Deleuze e Guattari à normatividade do estruturalismo – Sintoma acadêmico brasileiro do ressentimento.
31, 120
Nuances na distinção entre Morfose Regressiva e Morfose Progressiva – Fundação regressiva das religiões, modelo progressivo perversista das igrejas e simulação estacionária do regressivo na crença.
32, 126
Crítica à concepção substantiva do poder (top-down) – Proposição do poder como verbo (bottom-up) – Teoria das Formações permite uma Teoria Geral do Poder – Definição genérica de poder: “capacidade que tem uma formação de sobrepujar outra(s) em algum tipo de transa” – Indiferenciação e equi-potencialidade dos poderes das formações – Correlação da teoria do poder com a teoria do conhecimento.
33, 135
Psicanálise do poder – Entendimento da composição e das resultantes dos poderes segundo a Teoria das Formações – Base transferencial do poder – Para a psicanálise, suspensão da alienação depende de suspeição e suspensão da crença – “Criticar a crença é analisar a transferência” – Dissociação entre conhecimento e crença – Diferença entre psicanálise e filosofia negativa: psicanálise funciona em Revirão.
34, 144
Psicanálise é a efetiva analítica do poder – Entrada no novo século, tratamento dos poderes e engajamento indiferenciante.
35, 147
Juízo Foraclusivo é recurso à inteligência – Formação de razão = formação de valor = formação sintomática.
36, 149
Fundações mórficas e estados de crença – Cultura é constituída de fundações sintomáticas.
37, 151
Lançamento do livro Teoria-rebelião: Um Ultimato – Posição da Nova Psicanálise: “Bater de frente com as ideologias, promover a invenção teórica, propulsão do pensamento teórico”.
38, 151
Consideração dos modelos teóricos de Freud e de Lacan – Concepção de rede (WEB) é o novo modelo do Inconsciente,
39, 157
Dinâmica entre entropia e neguentropia no processo de cura – Nova Psicanálise: transformação do método recalcante em Juízo Foraclusivo – Toda forma de fundamentalismo envolve HiperRecalque.
40, 162
Anacronismo das instituições lacanianas de psicanálise.
41, 164
Para a psicanálise, transmissão é fazer série – Modelo de transmissão da Nova Psicanálise: análise pessoal, polo de estudo, polo de formação e oficina clínica – Transmissão é reprodução em nível secundário – Repulsão e sonegação como entraves à transmissão.
42, 168
Limitação da análise de Michel Foucault sobre formações como “formações discursivas” – Vocação desfigurante e abrangente da Teoria das Formações.
43, 171
Análise é consideração plena das formações que constituem uma situação de poder.
44, 174
Perversão = totalitarismo – Práticas sexuais não são perversões, mas diversões.
45, 176
Ana-lysis é pulverização e desvalorização das formações – Regime do Ser/Mundo é conjetural e conjuntural – Exemplos de HiperRecalque no Mundo.
46, 179
Discussão das possibilidades da transmissão a partir dos Sermões de Antônio Vieira – Imposição e positivação da cultura ibérica portuguesa em Antônio Vieira – Análise e produção de presença diante dos sintomas de colonizado.
47, 187
Dissociação entre perversão e sexualidade – Sexualidade é diversa, e não perversa – Definição de perversão: vontade de totalização – Perversão é coextensiva a todas as Morfoses – HiperRecalque e perversão na Morfose Regressiva – Fundações mórficas e perversão na Morfose Progressiva.
48, 191
Mimese do Primário pelo Secundário – Arquétipo é reprodução sintomática – Teorizações sobre Quebra de Simetria em psicanalise (Édipo, Nome do pai, Creodo antrópico) – Sintoma de colonizado e falta de postura institucional.
49, 196
Grupos de Formação como crítica à noção lacaniana de mais um.
50, 197
Regime da escolha (Juízo Foraclusivo) e do recalque nas morfoses estacionárias.
51, 205
Cura, limitações sintomáticas e narcisismo.
52, 207
Presença de formações primárias não analisáveis no autismo.
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