SÓPAPOS

SóPapos 2014

Situação: Publicado pela NovaMente Editora, RJ, 2019.

Este volume transcreve a fala de MD Magno em 2014. Continuam aqui seus SóPapos, iniciados em 2011 (“deixando correr os papos no aleatório, mas sem jogar conversa fora”), após os Seminários (1976-1999) e os Falatórios (2000-2010). É a prosa solta sobre a Nova Psicanálise, ou NovaMente, desenvolvida por ele desde a década de 1980: uma reformatação que unifica o aparelho teórico-prático da psicanálise em sintonia com o ambiente digital do conhecimento.

A ênfase inicial está na Teoria das Formações, que é o bojo dos processos mentais segundo a psicanálise. Decorre dela uma diferença de postura para com outros pensamentos. Com a filosofia, por exemplo. A psicanálise pode tomar qualquer construto dos filósofos, mas é outro o seu tratamento pulsional das transas desta nossa espécie com as articulações.

Em outro papo, o Evento Freud é visto como um ponto de convergência de saber, pesquisa, estudo e operação clínica de sua época. Personagens ditos dissidentes – Jung, Ferenczi, Adler, Rank –, na verdade, são afluências e defluências da psicanálise, não estão fora dela. E o que cabe hoje propor é uma Nova Convergência como teoria genérica inclusiva da psicanálise, das neurociências e da microfísica: uma “teoria da mente compatível com a materialidade”.

Quanto à produção de Conhecimento (diferente de epistemologia), Magno destaca quatro operações: investigação (descrição e entendimento do artifício espontâneo e do industrial), invenção (criação a partir da transa de formações), invocação (querer conhecer a realidade em relação de transcendência e investimento), e Investimento (aplicação de tesão na ordem de transferência e/ou crença). Para ele, que toma a análise como conhecimento, qualquer tipo de expressão artística ou científica tem vontade de religião e articula as quatro operações.

E a conversa vai seguindo com temas e questões como: a especificidade da postura da psicanálise a partir de seus paradigma (sexual) e estatuto (místico); a Metapsicologia como modelo da transa com o Inconsciente; o neo-romantismo e o decadentismo no contexto da emergência do pensamento freudiano; as duas expressões da Pulsão (perecimento e renovação das formações); o estatuto ficcional da realidade; o conhecimento e o sexo como transa de formações; a analogia entre computação quântica e processamento inconsciente; o autismo à luz do conceito de Pessoa; a imaginação, o devaneio, o delírio e a alucinação; o sonho, o ato falho e o chiste como um mesmo processo de transa de formações; a teoria dos Cinco Impérios e o projeto soteriológico; a Melancolia como “modo de articulação da pessoa com o Haver”; o conceito de narcisismo a partir da Teoria das Formações; a Transofia como nova era axial (passagem do logos à transa); a reversão da paranoia em psicopatia; a maior resistência à psicanálise hoje ser dos psicanalistas e de suas instituições...


Sumário

1, 17

Especificidade da postura da psicanálise a partir de seu paradigma e estatuto – Questão da transcendência e da imanência em Lacan.

2, 21

Haver desejo de não-Haver é reconhecimento de desejo de transcendência – “Psicanálise é Arreligião” no sentido do desejo transcendental.

3, 25

Entendimento sobre o dito lacaniano “Digo sempre a verdade, não-toda porque as palavras faltam” – “A ética da NovaMente é consequência da Mística” – Conhecimento a partir de Haver e Ser.

4, 30

Esclarecimentos sobre a Teoria das Formações – Fenômeno do polipsiquismo a partir da Teoria das Formações – Metapsicologia como modelo da transa com o Inconsciente – Economia, dinâmica e tópica segundo o modelo da NovaMente – Postura analítica é ética porque mística.

5, 38

Metapsicologia enquanto técnica e modo de pensar aplicáveis – Momento clínico de Freud consistiu em organizar os fenômenos do Inconsciente segundo parâmetros e conceitos.

6, 42

Considerações sobre neo-romantismo e decandentismo no contexto da emergência do pensamento freudiano – Diferenças entre a decepção decadentista e a contemporânea.

7, 44

Esclarecimentos quanto à ambiguidade freudiana entre pulsão de morte e pulsão de vida – Proposição da “Pulsão de não-Haver” como terceiro em relação à pulsão de morte e de vida – Duas expressões da Pulsão: perecimento e renovação das formações – Quebra de Simetria é dissimétrica em si (produz metades desiguais) – Importância clínica do raciocínio sobre a expressão dissimétrica do bífido – “O psicanalista apenas dirige o tratamento”.

8, 57

Comentários sobre A intepretação dos sonhos, de Freud – As fixões teóricas sobre o Inconsciente em psicanálise – Estatuto ficcional da realidade.

9, 64

Consciência de consciência é efeito de transa de formações com catoptria – Entendimento de conhecimento e sexo como transa de formações – Maravalha de 20 de maio.

10, 69

Perguntas e respostas em entrevista realizada no POP - Polo de Pensamento Contemporâneo/RJ: analogia entre computação quântica e processamento inconsciente; postura do analista e estatuto místico da psicanálise; efeito dissolvente da tecnologia comunicacional; posição ética da psicanálise; considerações sobre os Impérios culturais.

11, 86

A propósito da matança e da guerra como via de aproximação do Cais Absoluto – Esclarecimentos sobre a perspectiva gradualista e vetorial dos movimentos psíquicos – Exemplo disso na patemática (metanoia e paranoia; regressivo, estacionário e progressivo) –Teoria das Formações é leitura da dinâmica das formações. Cf. p. 119; 122;123; 129.

12, 97

Considerações sobre autismo à luz do conceito de Pessoa – ART (como regime de articulação) e arte (como mercado) – Sobre análise e resistência. Cf. p. 134; 145.

13, 106

Comentários sobre a cientificidade da psicanálise a partir de O tronco e os ramos, de Renato Mezan – NovaMente é produção de um novo paradigma.

14, 110

Proposição das quatro operações do conhecimento (presentes em qualquer conhecimento): investigação, invenção, invocação e investimento – Invocar é querer conhecer a realidade em relação de transcendência – Postura de invocação facilita produção de religiões – Inventar é criar a partir da transa de formações – Operação de invenção, quando hegemônica, facilita as Artes – Investigação é descrição e entendimento do artifício espontâneo e do industrial – Hegemonia da operação de investigação facilita ciência – Investimento é aplicação de tesão na ordem de transferência e/ou crença – Proposição do conceito de “quase” – Qualquer tipo de expressão artística ou científica tem vontade de religião e articula as quatro operações de conhecimento – Homo-sexual: todos têm o Mesmo lugar – Análise como conhecimento.

15, 126

Grupo de Formação é expediente de reconhecimento em nível analítico – Transferência, transferência negativa e contra-transferência em análise – Crítica da noção de “si mesmo” à luz da teoria das formações.

16, 135

Considerações sobre imaginação, devaneio, delírio e alucinação à luz da teoria das formações.

17, 137

Sonho, ato falho e chiste são um mesmo processo de transa de formações – Defensabilidade da tese “evento pode ser tomado como escolha”.

18, 141

O tesão e suas trapalhadas (Triebe und Tribschicksale) – Ordem sintomática do Primário e Secundário e a subversão do Originário – Monismo da pulsão e separação heurística das formações – Tesão nomeado é entre formações.

19, 149

Comentários sobre História da descoberta do inconsciente, de Henri F. Ellenberger – Evento Freud é ponto de convergência de saber, pesquisa, estudo e operação clínica da época, resultando em psicanálise - Jung, Ferenzci, Adler, Rank, etc. como afluências e defluências da psicanálise – Proposição de uma Nova Convergência como teoria genérica inclusiva da psicanálise, das neurociências e da microfísica: uma “teoria da mente compatível com a materialidade” – Postura gnóstica radicalmente imanente a partir do Impossível Absoluto.

20, 156

Origem de civilização é emergência de revirão no seio do não revirante – Evolução é invenção de uma idioformação por outra, em qualquer lugar do universo, com outra composição.

21, 158

Comentários sobre o livro de François Laruelle, Christo-fiction: les ruines d’Athènes et de Jérusalém –  Inspiração gnóstica da nova psicanálise e do pensamento de François Laruelle – Posição herética como gesto de afastamento da razão ortodoxa – Para Laruelle, fenômeno Cristo é restauração desta espécie segundo outro paradigma – Para nova psicanálise, fundação e instalação do quarto império não depende de Cristo (terceiro império) – Necessidade da teoria dos cinco impérios para situar adequadamente projeto soteriológico – Princípio de identidade, diferença e vínculo absoluto.

22, 165

“Melancolia é modo de articulação da pessoa com o Haver” – Postura radical da indiferença é melancólica – Melancolia e autismo – Melancolia espontânea e melancolia estrutural – Lucidez é metanoica – Relação entre melancolia e luto.

23, 170

Valor dos trabalhos em neurociência de V. S. Ramachandran, tese do Revirão, princípio de catoptria – Construção cerebral da espécie ocorre mediante princípio de catoptria – Investigação da passagem do especular ao catóptrico.

24, 178

Conceito de narcisismo a partir da teoria das formações – Narcisismo é conjunto de formações em seu estado de resistência – Acontecimento é apreendido por suas consequências, não por razões históricas – Criação, acontecimento e Hiperdeterminação.

25, 186

Defesa de autoria é feita por formações narcísicas – Eficácia das promessas no marxismo e no cristianismo.

26, 188

Uma nova era axial e o surgimento do pensamento psicanalítico – Era axial de Jaspers é passagem do mythos ao logos – Transofia como nova era axial – Transofia: passagem do logos à transa – Modo de operação da nova era axial é gnômica, não epistêmica – Revirão, unilateralidade e modo transativo (tranz) de funcionar da mente – Pensamento transacional é ad hoc.

27, 199

Espinosa e o fundamento do narcisismo – Narcisismo radical do Haver – Irredutibilidade do modo de pensar da psicanálise em relação a outros pensamentos – Raridade do mood psicanalítico – Gradientes de metanoia e paranoia nas transas místicas – Creodo antrópico e weltanschauung.

28, 205

Escalaridade entre paranoia e metanoia – Reversão da paranoia em psicopatia.

29, 210

Pertinência da noção freudiana de konstante Kraft – “Haver desejo de não-Haver” é vetor de força constante no sentido de não-Haver – Radicalidade e redução à denominadores comuns no trato com os saberes.

30, 213

Núcleo português de alta performance na história do Brasil –  Competências dos judeus, árabes e templários na formação do núcleo português – Sebastianismo e hegemonia portuguesa, ascensão do catolicismo português e declínio de Portugal – Estilo manuelino e o maneirismo português.

31, 216

Haver é Wiederholungswang – Constituição dos grandes sistemas referenciais do século 20 – Criações dissolutivas devido à tecnologia – Nova Psicanálise como referência é anti-referencial.

32, 219

Comentário sobre o texto freudiano Batem numa criança – Ausência de distinção adequada entre fantasia e perversão no texto freudiano.

33, 221

Vontade de sistema em filosofia é vontade de fechamento – Insuficiência de conceituação na tópica freudiana – Eficácia do pensamento científico é poder de reprodução do Espontâneo – Aproximação da psicanálise do princípio fundamental da ciência.

34, 227

Comentário sobre o texto freudiano A significação antitética das palavras primitivas – “Inconsciente como Unheimliche é lugar bífido de onde derivam as oposições” –Conceituar com exclusão (filosofia) e conceituar com equivocação (psicanálise).

35, 233

Brecht e o efeito de distanciamento e desafetação – Equivocação em Lacan – Recalque primário na formação do signo linguístico.

36, 236

Unheimliche e objet trouvé – Prevalência do binarismo e da opositividade no estruturalismo – Topologia em Lacan: vetor descendente do unilátero ao bilátero – Topologia na nova psicanálise: vetor ascendente do bilátero ao bífido.

37, 240

Agonística das formações na nova psicanálise substitui esquema dos sistemas psíquicos em Freud.

38, 241

Édipo, nome do pai, vínculo mãe/filho lidos a partir do creodo antrópico – Investimento ideológico em formações primárias – Naturalização das construções ideológicas – Amor é nostalgia de integração e tentativa de eliminação de quebra de simetria – Amor de dois: respeito.

39, 247

Desmoronamento e nova recomposição de formações recalcantes organizadoras da sociedade atual – Agonística das formações como referência para entendimento do mundo – Indiferenciação e estatuto místico da psicanálise e postura do analista.

40, 251

Primário é constituição biótica espontânea – Esclarecimento: primário, secundário e originário são formações das IdioFormações, não formações imediatas do Haver.

41, 258

Estatuto teórico do Princípio de Catoptria – Haver e Ápeiron de Anaximandro – Causa (das Ding freudiana) é o não-Haver – Distinção entre enantiomorfismo e reversibilidade física.

42, 264

Esclarecimentos sobre os conceitos de Primário, artifícios espontâneos e Haver.

43, 269

Maior resistência à psicanálise vem da psicanálise – Resistência e aparelhos neo-etológicos de egoicidade – Crença é o núcleo da resistência – Distinção entre delírio e imaginação – Vetorização e intensidade das morfoses.



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