SÓPAPOS
SóPapos 2016Situação: Publicado pela NovaMente Editora, RJ, 2018.
Este livro transcreve a fala de MD Magno em 2016. Continuam aqui seus SóPapos, iniciados em 2011 (“deixando correr os papos no aleatório, mas sem jogar conversa fora”), após os Seminários (1976-1999) e os Falatórios (2000-2010). É a conversa sobre a Nova Psicanálise, ou NovaMente, desenvolvida por ele desde a década de 1980: uma reformatação que unifica o aparelho teórico-prático da psicanálise e o mantém em consonância com os avanços de ponta no campo do conhecimento.
Os papos começam denunciando, em Lacan, a “fé” na interpretação. Para Magno, ao contrário do que diz Nietzsche, “só há fatos, não há interpretações”. É falsa a suposição de que alguém possa interpretar algo que foi dito. Isto muda a Clínica: “ao tratar de algo, estamos (não interpretando, mas) criando um fato novo”.
Por outro lado, Lacan acerta ao falar do Inconsciente como capitalista. Não se vai acabar com o capitalismo, que é doido e para o qual vale tudo. Há, sim, que, dentro dele, produzir limites para que não prejudique demais. É o mesmo que se apresenta para uma pessoa quanto a ter que limitar suas moções inconscientes, pois “se soltar a franga, fica perigoso”. Daí ser útil o Juízo Foraclusivo que o autor apresenta como juízo suspensivo do recalque.
Outro papo é sobre a Teoria das Formações trazida pela NovaMente, sem sujeito, objeto ou édipo. Trata-se de considerar as formações em jogo numa situação, numa pessoa. Isto, sem conteúdo semântico. Na análise (que é análise de formações, e não de pessoas), além de polarizar uma formação (que é sempre um conjunto de formações de formações), focaliza-se, mas há uma franja enorme que não nos deixa ver outras formações possíveis lá presentes. Então, ao buscar entender o sexo como sexualidade de uma pessoa mediante a anatomia, veremos que a anatomia é apenas uma das formações em jogo, e que não é necessariamente congruente com suas formações comportamentais ou culturais. A quantidade de formações na determinação da sexualidade de alguém é enorme.
Daí Magno repetir que homossexualidade não existe. Só existe hetero. A homossexualidade ou é um desejo infinito ou um erro de perspectiva: toda sexualidade é sui generis, ou seja, é singular. Portanto, diferente de qualquer outra.
O mais importante na clínica psicanalítica é o vetor de escuta. O vetor da psicologia, ao contrário, faz estudos e os aplica sobre seu cliente para corrigir, ensinar, modificar – e normalizá-lo. Em psicanálise, não se devolve ao analisando nada que ele não tenha, antes, entregue.
E os papos vão se desenrolando sobre: dois sintomas endêmicos do Brasil (corrupção e patrimonialismo); a personalidade do Brasil ser maníaco-depressiva; o vira-lata ser o nosso pedigree (vira-lata não tem fronteiras, fuça todas, não há a lata dele); nossa espécie ser revirante, e não falante (aliás, torna-se falante por ser revirante); a loucura do século XX ter sido supor que tudo sai de nossa cabeça, que é construção social; os neo-realistas e os aceleracionistas; a ética que combina com a Nova Psicanálise ser o trabalho constante de aproximação da Indiferenciação; a psicanálise se medir (não pelo conhecimento que traz, e sim) pela postura que põe no mundo; estarmos na era (não da convivência, mas) da coexistência...
Sumário
1, 15
Comentários sobre o estruturalismo a partir de Função e campo da palavra, de Jacques Lacan – Fato e interpretação à luz da teoria das formações.
2, 21
Fala e instinto da língua segundo a Nova Psicanálise – Considerações sobre a ideia de presença.
3, 24
Crítica à ideia de sujeito a partir da tópica do recalque – Comentário sobre o conceito lacaniano de sujeito.
4, 26
Analogias com a NovaMente a partir de Sete breves lições de física, de Carlo Rovelli – Wo es war, soll Ich werden é ‘cair no buraco de onde você pensou que tinha saído’.
5, 28
Vetores regressivos, estacionários e progressivos em questões como Estado, poder, religião – Dissociação das formações na pessoa.
6, 31
Analogia entre fim da história hegeliano e fim de análise lacaniano face à proposição análise propedêutica e análise efetiva – Sujeito é contrapartida necessária da duplicidade corpo e alma – Razões para a proposição da Teoria Polar das Formações e do conceito de Pessoa – ‘Toda sexualidade é sui generis, ou seja, singular’ – Questões sobre arte e fim da arte.
7, 40
Comentários sobre a Oficina Clínica no âmbito dos dispositivos de formação do analista – ‘O mais importante na clínica é o vetor de escuta’.
8, 46
Relação da sexualidade com as morfoses regressiva e progressiva – Gênero face às formações primárias e secundárias da tópica do recalque.
9, 48
Comentários sobre A ciência e a verdade, de Jacques Lacan – Esclarecimentos sobre equivocação e bifididade.
10, 53
Ideia de família a partir do creodo antrópico.
11, 55
Esclarecimentos sobre o aspecto estacionário da culpa – Dois sintomas de fundação do Brasil: corrupção e patrimonialismo endêmicos.
12, 60
Fala e escrita a partir da tópica do recalque – ‘Falar é a expressão de uma escrita’.
13, 68
Considerações sobre despertar e realidade – Revirão e HiperDeterminação.
14, 71
Comentários sobre o conceito lacaniano de falo, a propósito de A significação do falo – Esgotamento do pós-estruturalismo.
15, 73
Neo-realismo em filosofia e a Teoria das Formações – Primário é dado e Secundário é produzido.
16, 81
Na história da psicanálise, não há evolução, apenas ficções diferentes – Aceleração dos processos na contemporaneidade – Quarto Império e os algoritmos que resultam em aplicativos.
17, 89
Comentários sobre Kant com Sade, de Jacques Lacan – Sade faz uma análise do Poder – Gnômica, ciência e religião.
18, 96
‘O Brasil é maníaco-depressivo’.
19, 98
Estertores do Terceiro Império – Sentido de progresso no Creodo Antrópico – Irredutibilidade do conceito de bifididade ao conceito de sinthome de Lacan – Sobre a possibilidade de bifididade em nível quântico – Expressão da bifididade na língua – Interlocução contemporânea de Lautréamont, Nick Land, George Bataille – Abstração e esvaziamento por procedimentos de proliferação – Proliferação e esvaziamento, via topologia, em Lacan, e via autômato celular, em Wolfram.
20, 106
Origens e funcionamento da sintomática maníaco-depressiva do Brasil.
21, 109
Acepção de fundamento em psicanálise – Busca por fundamento é movimento abstrativo de postular um aquém constitutivo – Análise como entendimento da constituição de algo – Lacan considera entrada na ordem simbólica como condição constitutiva – Insuficiência da equivalência entre ordem simbólica e interdição do incesto – Fundamento para nova psicanálise está no regime do Haver.
22, 112
Cultura como morfose estacionária – Processos de inibição de pensamento e movimentos regressivos na cultura – Intervenção da tecnologia nos processos estacionários e regressivos.
23, 116
Ética da nova psicanálise é trabalho constante de Indiferenciação –
‘A psicanálise não se mede pelo conhecimento que traz, e sim pela postura que põe no mundo’ – O que é e o que envolve a postura em psicanálise.
24, 123
Ética da nova psicanálise e o exercício da palhaçada.
25, 125
Inconsciente é estruturado unariamente – Suposição de “começo” unário no Haver e quebra de simetria da unariedade – Raciocínios topológicos sobre a unariedade – Binariedade do Primário – Pensamento plerômico para pensar unariedade e oposições – Esclarecimento sobre as noções de progresso, progressivo e evolução – Era da coexistência – Valor da obra de Georges Bataille.
26, 133
Conhecimento como domínio das coisas (epistemologia) e o conhecimento como transformação (gnoseologia) – Diferença entre artificialismo e fake.
27, 135
Condições e consequências da formulação ‘Inconsciente é estruturado no que ele se engaja’ – Sintoma do século 20 é a linguagem – Discours, Figure de Jean-François Lyotard na contramão do século 20 – Realidade do recalque originário permite a equivalência Haver = Inconsciente – ‘Deus é inconsciente’ de Lacan – Deus sive Natura de Espinosa – ‘Inconsciente é Deus’ ou ‘Inconsciente é o Haver’ da nova psicanálise – ‘Linguagem é resultado do engajamento do movimento do Inconsciente nas formações do Haver’.
28, 147
Nobel de Bob Dylan é marca da entrada no Quarto Império – Referências de fronteira no Primeiro, Segundo e Terceiro Impérios – Eliminação de fronteiras no Quarto e Quinto Impérios – Possibilidades futuras de mapeamento do Primário e suas consequências para a psicanálise – Passo conceitual da nova tópica Primário/Secundário/Originário e seu alcance no Quarto Império.
29, 150
Causa absoluta e causas múltiplas nos regimes do Haver e do Ser – ‘Emergência hegemônica do Originário’ no Quarto Império – Positivação do sintoma vira-lata.
30, 154
‘Vetor da história hoje é no sentido da dissolução’ – Exercício de dissolução das formações.
31, 160
Formulação da tópica da nova psicanálise a partir do axioma A à Ã –
Trabalho teórico da nova psicanálise sobre as tópicas freudiana e lacaniana é de desconfiguração.
32, 164
Dissolução das formações no mundo atual – Comentário sobre o livro Fashion, Faith, and Fantasy in the New Physics of the Universe de Roger Penrose – Modelo ou roteiro da natureza (artifício do Haver) é ejaculação – Eleição de Donald Trump e seus vetores progressivos e regressivos.
33, 172
Cibernética é busca de redundância, psicanálise é dissolução (ana-lysis) de redundância – Movimentos de dissolução no Quarto Império – Circularidade do creodo antrópico – Máquinas poderão ser o próximo Primário – Vigência do princípio antrópico resulta sempre em processo de autoconsciência do Haver.
34, 179
Modos de articulação do inconsciente não são exclusivamente linguísticos.
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